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domingo, 4 de setembro de 2011

Para ir escrevendo...

- Pára de esfregar, que por esse andar não há hidratante que te tire os golpes das mãos! - disse-lhe.
- Deixa-me estar! Não vez que ainda não está limpo?
- Como queiras! - E saí da cozinha.
Tem sido assim desde aquele dia... Ele não fala no assunto e faz de conta que está tudo bem, e eu quase acredito... mas nunca demora muito até que volte a vê-lo perdido dentro de si mesmo, enquanto em modo automático vai puxando o lustre a tudo onde toca.
Na semana passada limpou portas e armários, pondo-lhes tanto óleo de cedro que os espelhos cá de casa quase deixaram de ter utilidade; na semana anterior conseguiu arranjar roupa suficiente para encher quatro máquinas de lavar; hoje, depois de fazer uma revolução no nosso roupeiro, foi para a cozinha, fez o almoço e agora está de volta da fritadeira, que de tanto ser esfregada não tarda a ficar sem cor.
Já pensei em amarrá-lo à cabeceira da cama e dar-lhe tanto que fazer que o deixasse exausto durante um ou dois dias. Talvez assim ele fosse capaz de falar e livar-se da ansiedade que não o deixa parar quieto. O problema é que como a coisa anda, é bem capaz de me sair o tiro pela colatra, ficar eu K.O. e ele continuar a limpar como se não houvesse amanhã cada canto da nossa casa.

Tinha acabado de entrar na sala quando ouvi algo a partir na cozinha. Corri até lá para ver o que se passava e ao entrar ele olha-me com um sorriso envergonhado:
- Acho que temos de comprar mais copos para repôr o stock cá de casa.
- Lá se foi mais um... Andas demais ultimamente! - disse-lhe em tom de troça.
- Escorregou-me das mãos... - e baixou o olhar.
Então dei-me conta que já não estavamos a falar do copo que se tinha acabado de partir.
- Anda cá! - Abracei-o e ele correspondeu, apertando-me gentilmente e deixando descançar o queixo sobre o meu ombro. Ambos sabiamos que ele era cuidadoso, e só esta semana já era o quarto.

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